O Mural.com abriu um espaço para estimular os alunos e ex-alunos a escrever crônicas, contos e até romances. Se você acredita no seu potencial e gostaria de dividir idéias literárias com os demais alunos, envie-nos sua peça para publicação aqui.
Para iniciar este espaço, estamos publicando a crônica do jornalista César Colombo, ex-aluno do nosso curso.
Armas, queijo e manteiga
César Pereira
Não gosto de armas. Também não gosto de queijo e muito menos de manteiga. Para falar a verdade eu tenho mais receio de um pote de manteiga do que de uma pistola automática. Como são poucas as pessoas que não gostam de manteiga, não caberia um referendo popular sobre a proibição da fabricação e comercialização deste famigerado e mal cheiroso derivado do leite. Os defensores da manteiga podem até tentar me convencer das propriedades nutricionais da dita cuja, mas para mim ela é intragável e ponto final.
Já com o queijo, não sou tão drástico a ponto de pedir um referendo público sobre a sua proibição. Apesar de não engolir a menor das fatias de queijo, até tolero-o numa pizza, desde que seja o mussarela e com bastante, mas bastante orégano para disfarçar seu gosto horrível.
Quanto às armas, elas não cheiram tão mal e nem tem um gosto tão ruim, apesar de nunca ter mastigado um revólver com doce de abóbora no café da manhã. O problema, segundo os especialistas, são as balas; elas podem fazer mal para os dentes e para o coração. Para os dentes se o tiro for em direção à boca; para o coração se o tiro for na altura do peito, mais para o lado esquerdo.
E ainda tem o problema das balas perdidas, que geralmente afetam o cérebro e a coluna vertebral. Muita gente acaba morrendo por causa delas. Por outro lado, poucas são as notícias de mortes provocadas por ingestão de queijo ou manteiga, salvo os casos de envenenamento ou contaminação.
Tanta gente morrendo por conta das balas suscitou o referendo sobre a proibição da fabricação e comércio de armas de fogo no Brasil. Se me perguntarem se sou a favor ou contra tal proibição, eu digo sem pestanejar: sou contra as duas coisas. Acho que primeiro, deveríamos votar contra a fome e a miséria, contra a concentração da riqueza, contra a corrupção, contra a fabricação e venda de carros que ultrapassassem os 40 quilômetros por hora (quantas vidas seriam poupadas?), contra as novelas, contra o desmatamento, contra o analfabetismo, contra a falta de cultura e contra a falta de saúde.
Não seria mais econômico proibir ou liberar a fabricação e comércio de armas de fogo por uma lei aprovada no congresso nacional. Talvez isso seja coisa importante de mais para ser decidido apenas pelos deputados e senadores. Talvez os nossos honrados representantes políticos só têm autonomia para decidir sobre a proibição de coisas menos importantes, como a fabricação e o comércio de queijo e manteiga.
Um comentário:
Sou aluna do curso de Jornalismo da Unisul, campus Tubarão, por isso, não podia deixar de
parabenizar o Mural.com, por esse espaço que destinaram à crônica, “apreciada” por grandes jornalistas - como Luíz Fernando Veríssimo - e que ainda, deu início à literatura brasileira.
Também gostei muito da crônica de César Pereira, apresenta características importantes desse estilo literário, como a atualidade, a crítica tendênciosa, mas sem agressividade e a mistura de sentimento e humor. Realmente uma ótima escolha para a abertura desse espaço.
Enfim, desejo sucesso!
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