sexta-feira, 4 de junho de 2010

O sonho que virou realidade

Lilian Demo – 1º semestre

O sonho de conhecer Cuba e estudar na escola Escuela Internacional de Cine y Televisión fez com que, em janeiro de 2007, a professora Silvana Lucas fosse passar parte das férias de verão estudando nas terras de Fidel Castro. O intercâmbio cultural, segundo ela, foi o que mais marcou, por ser uma escola espanhola com sede em Cuba. O local contava com pessoas das mais diferentes naturalidades e a troca de experiências era algo constante no ambiente estudantil.



O que esse curso te agregou profissionalmente falando?

Me deu mais segurança para falar de Fotografia Digital. Não aprendi muita coisa em termos de técnicas, mas porque me abriu novos horizontes. Na minha turma, nós éramos sete alunos: duas brasileiras, dois mexicanos, um cubano, uma espanhola e um espanhol. Eram sete pessoas com idiomas completamente diferentes e por mais que todos falassem um pouco do espanhol era um espanhol muito diferente do outro. Foi um convívio muito legal. Alguns eram profissionais, outros não. A troca de experiências era maravilhosa. Tínhamos passeios pelas redondezas da escola, que funcionava em um sítio. Às vezes, íamos até Havana caminhando pelas ruas da cidade fotografando. Era o dia inteiro, olhando a luz. Cada um tinha um equipamento e um olhar diferente sobre as fotos. Foi isso que mais enriqueceu essa oportunidade de vivenciar vários mundos em um mundo diferente.

Com relação ao choque cultural, o que você viu ou sentiu de mais diferente?

Muito diferente. Antes de viajar, eu li livros, pesquisei na Internet, olhei mapa, li histórias sobre Fidel Castro, sobre Che Guevara. Mas o choque realmente foi muito grande, até porque Cuba é um dos únicos países socialistas atualmente. Desde quando eu desci do aeroporto, no táxi, até a escola sozinha e sem conhecer ninguém. Na janela do táxi, as imagens pareciam que eu estava vendo cenas de um filme, parecia um mundo diferente. Quando eu fui, era inverno lá e mesmo assim era muito quente. Fui direto para a escola e, apesar de ser em Cuba, ela é mantida por espanhóis e tem uma característica também muito estrangeira. Dentro da escola, você encontra alunos do mundo inteiro. Eu conheci pessoas da Guatemala, da Costa Rica, das Ilhas Canárias, Peru, México, Cuba, Chile e Bolívia. Era muito rico isso e todo mundo que ia tinha que morar lá na escola. Era um encontro diário com todos. No café da manhã, no almoço. No intervalo, íamos para a piscina. À noite, tinha uma sessão de um filme depois do jantar no auditório. Por ser uma escola de cinema, eu assisti a filmes do mundo todo. Assisti a muita coisa legal, muita coisa louca. Essa convivência com pessoas totalmente diferentes era muito gratificante.

O que mais te marcou em Havana?

A alegria do povo, mesmo vivendo com dificuldades e sem luxo, sem magazines ou lojas, supermercados vazios e com poucas ofertas de mercadoria, prateleiras vazias. O povo muito alegre, dançante, muito musical, todo mundo já participou de um filme, de um documentário. Eles vivenciam muito a arte, o cinema. Existe muita união entre o povo. Não tem perigo caminhar nas ruas mesmo porque não tem muito o que oferecer pelo poder aquisitivo. Todo mundo dá carona para todo mundo. É uma coisa de muita liberdade, embora nós saibamos que toda essa liberdade é vigiada pelo controle do governo. Nas atividades que eles realizam, é tudo muito vigiado. A grande maioria das coisas é reaproveitada de uma pessoa passa para outra. Um filho passa para o outro. Esse lado é o mais livre, porque você não fica vinculado a uma moda, a alguns vícios de consumo que alguns de nós temos.



Como é a comida nessa região?

A comida de lá é muito ruim. Eu emagreci muito. Eu ficava contente quando íamos para Havana, às vezes à noite ou final de semana, que a escola oferecia ônibus, e alugávamos casas. Eu gostava de ir porque às vezes ia a um restaurante um pouco melhor e gostava de comer pescados. Na escola, pela escassez de alimento, não se come muito carne de boi e sim frango. A grande maioria do que eles fazem com frango é ensopado e eu não comia. Não tinha comida. Se era dia de frango, era só aquilo e aí eu deixava pra tomar um café depois. Se você quer um misto quente, tem que avisar que é pão com queijo. É um tipo de pão e um queijo com uma cara não muito boa.

Qual foi a maior dificuldade?

No começo, a saudade da família, mas era o dia inteiro estudando. Na hora do almoço, almoçávamos e, às vezes, quando eu não almoçava, ia para a piscina. Final de tarde, voltava para o apartamento, que era dividido. Eu morava com a espanhola e a outra brasileira. Às vezes, inventávamos de fazer algo para comer ou então descíamos para conversar com os amigos. Sempre tinha um pessoal lá. O mais difícil foi conversar com os cubanos. O espanhol cubano é muito difícil.

Como era a integração com as outras pessoas da escola?

A minha turma era de Fotografia Digital. No mesmo momento, vários outros cursos estavam acontecendo. Tinha Roteirista, Direção de Atores e outros cursos menores. Tinha outras turmas. Na outra turma, tinha um aluno de Cinema da Unisul de Pedra Branca. A nossa turma tinha mais pessoas. O pessoal de Direção de Atores andava muito com a gente. Isso foi muito legal, conheci muitas pessoas. Às vezes, estávamos almoçando no refeitório e entrava o pessoal com equipamento para gravar som de colher batendo, gente comendo. À noite, indo para o apartamento, de vez em quando se via um pessoal filmando em uma casinha cheia de iluminação e fazendo uma cena à noite. Então, toda hora via alguém fazendo alguma coisa, batendo uma foto, um escrevendo roteiro. Era muito livre. Todos liam muito, muito clássico. Os caras barbudos e as gurias com aqueles vestidões. Tinha gente que ia de pijama para o café da manhã. Era tudo muito zen, muito tranquilo.

Você visitou algum ponto turístico?

Fui a vários. Eu passeava muito pelo Malecón, que é a avenida beira mar de Havana. Final de semana é lotado de gente porque todo mundo vai caminhar lá final de tarde. Como não tem muita coisa para fazer, por causa do dinheiro, as pessoas vão para o Malecón ver o mar, conversar, tocar alguma coisa, beber rum, fumar charuto e namorar. Tem uns prédios que já foram prédios de luxo e hoje são como grandes cortiços. Choca um pouco, mas tem uma beleza. E naquele mar nós sabemos que muita gente já se jogou e já morreu tentando chegar a Miami (EUA) porque logo em seguida a primeira cidade é Miami. É pouco mais de 100 quilômetros. Muita gente se jogou de boia, muitos morreram na travessia, outros tantos chegaram do outro lado. Sem dúvida, é carregado de história. Havana velha é também um lugar incrível. É lotado de gente. Tem cebos vendendo livro na praça, igreja e construções antigas e o bar La Bodeguita, que é muito famoso.

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